segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MEMÓRIAS DE TRILHOS


Os trilhos dos trens da Central hoje assistem
a morte movendo-se através dos corpos ressequidos de meninos,
Velhos que não amadurecerão.
Serão a sombra súbita de uma ação fria, tensa e silenciosa
Entre a pedra, o cachimbo e o fogo.
O escuro que os abriga aviva memórias de um porão sujo
Onde escravos contavam os dias de seu ocaso.
A mente é agora a escrava de um prazer repentino
Seguido e antecedido de um vazio.
Não há tempo para esses meninos,
Sequer há meninos.
Os trilhos de trens da Central
Assistem sem surpresa ou espanto
Um nova infância
Que não aprendeu a imaginar, nem a esperar.
Deitada sobre a ferragem
A lembrança infame desses meninos
Esquece-se como aos trens que deixaram de passar,
Mas ainda se expressam em sua ausência.

domingo, 4 de novembro de 2012

VERTIGO INÓCULO

Aquele olho verde em tela inteira
e os raios avermelhados que fendiam-no em multiplicidades
me vinham dizer coisas,
e revelarem-se como uma redoma ao mais apurado sentido:
a vida é, obviamente, uma película eternamente atual.
Faziam saltar de si uma presença estranha,
a simples realidade móvel
que foge à atenção fixante dos homens sérios.
 

Há tantos abismos numa superfície
quanto a delícia de tangê-los profundamente.

sábado, 22 de setembro de 2012

Foice de poeta vivo
quem amola é a fome. 
Seu ataque é cheio de vazios doloridos.

sábado, 15 de setembro de 2012

O Novo

Como criar ante esses nós
Que na garganta querem me amarrar?
Passo num pulo à vista do mar
Pra respirar e soltar a voz.

Nada me impele a perder o dom
Se o que quero é ver a visão,
Amar o amor, sentir sensação.
Nada me impede de soar som.

Tenho nos bolsos um grão de ilusão
E alguns centavos de sonhos reais.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

quadrinhas 
+++
bolinhas, perna de pau,
banana baiana, circo caduco,
ocas de palha e de pau,
cana brasilis, moleque maluco.
+++
deixa essa criança brincar
brinca dentro e fora do olhar
lave o pensamento
com banhos de esquecimento

+++

 flores horizontais,
 escolas artesanais,
 gestos impessoais,
 deuses florestais.

+++
mesmo afoito,
fino al ultimo respiro onde me indivizo,
um palhaço ressoa um sorriso
e a criança de mim rebenta.







 



 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

CLAREIRA (Letra pra música de Rodrigo Garcia e dedicada à nossa amiguinha linda Júlia Vargas)



Água de rio,
Rio na rebentação,

Solve no estio
Fio de alumiaçao.

Variará no ar,
Lenta e devagar.
Um sussurrar no olhar,
Olhar do rio, remar!

Júlia sumiu
No vão de minhas mãos.

Luz de Ilusão
E adivinhação.

Variará em mim,
Lenta e devagar,
Um sussurrar no olhar,
Olhar de rio, amar!

terça-feira, 3 de abril de 2012